Leitura - Depoimento
Comecei a ler ainda no útero de minha mãe. Ela, com apenas segundo ano do
antigo Primário, trocava livros da Biblioteca das Moças com suas amigas,
romances de Guy Du Maupassant , Madame Deli e outros dos quais ela fala até
hoje – aos 92 anos. Aos sete anos adorava ler “ Contos de Fadas” – contos de
Andersen , Irmãos Grimm, em formato de HQ, que ela trazia quando ia ao mercado,
aos domingos. Era uma delícia e eu trocava qualquer brincadeira para ler minhas
revistas e as lia até ficarem amolecidas pelo manuseio. Aos doze anos, li meu
primeiro romance “Lady Patricia”. Viajei com ela para a Índia, conheci lugares
exóticos que nunca pensara em existir e, também, me apaixonei pelo seu
rajá.
Na escola, quando faltava um professor, o que era muito
raro, corria para a Biblioteca- lugar secreto, silêncio absoluto, cheiro de
livros velhos , magia pura . Lá me refugiava do mundo externo e ficava absorta
na obra de Monteiro Lobato . “ Os Doze Trabalhos de Hércules”, minha coleção
predileta, levou-me à Grécia e à sua Mitologia, à democracia, a Péricles,
Aristóteles ...
Li todos os livros de José de Alencar, os José Mauro de
Vasconcelos, Raquel de Queirós , nas aulas de Português, ainda no Ensino
Fundamental; depois, nas aulas de Literatura , durante o Magistério, os autores
das escolas que estávamos estudando no momento. Todo mês tínhamos a tarefa de
ler um livro para fazer prova ou debates. Em um dos nossos trabalhos, minha
inesquecível Professora de Português, entrou em contato com alguns autores:
Vinicius de Morais, Rubem Braga, Osman Lins e fomos entrevistá-los. O meu grupo
entrevistou Osman Lins, em São Paulo, onde residia. Que emoção vê-lo descrever
os personagens do romance “ O Fiel e a Pedra”! Foi uma experiência inesquecível
para uma normalista de dezoito anos!
Hoje posso dizer que sou uma devoradora de livros e que “
sou o que sou pelos escritores que devorei” como disse Rubem Alves ao ser
entrevistado.
Célia Regina Teixeira da Costa